A Igreja Matriz de São Miguel
A Igreja Matriz de São Miguel foi um importante templo religioso da comunidade católica na região, passando por diferentes etapas até a sua desativação.
A Comunidade e a Paisagem
Da Capela à Igreja
O Cotidiano Religioso
A Dessacralização e a Desativação
O Abandono da Edificação
A Igreja Matriz de São Miguel
A Igreja Matriz de São Miguel foi um importante templo religioso da comunidade católica na região, passando por diferentes etapas até a sua desativação.
A Comunidade e a Paisagem
Da Capela à Igreja
O Cotidiano Religioso
A Dessacralização e a Desativação
O Abandono da Edificação
A Comunidade e a Paisagem
A primeira leva de imigrantes alemães desembarcou na Colônia Alemã de São Leopoldo em 25 de julho de 1824. Nos anos seguintes, novos imigrantes chegavam, o que fez com que a área colonial se expandisse, especialmente para a região da Encosta da Serra. A partir daí, ocorre a formação do município de Dois Irmãos.
O grande destaque nesse processo é dado ao ano de 1829, onde algumas famílias ali se estabeleceram, após enfrentar adversidades na viagem marítima, como tempestades e naufrágio. Estas famílias, reza a lenda, teriam prometido construir uma igreja, caso conseguissem chegar a salvo, que seria atribuída ao santo daquele dia. Como chegaram em 29 de setembro, o Santo homenageado foi São Miguel Arcanjo.
A maior parte dos colonos que se instalaram na Picada de Dois Irmãos era de confissão religiosa católica. Mas também se instalaram evangélico-luteranos. Tanto que as primeiras igrejas construídas na localidade têm data de inauguração próximas: a capela católica em 30 de novembro de 1832, enquanto o templo protestante foi inaugurado em 29 de setembro de 1834.
Ao se falar na comunidade que ali se formou, deve-se lembrar do morro Dois Irmãos que foi usado como ponto de referência para a estruturação e distribuição dos lotes.
Assim como a Antiga Igreja Matriz de São Miguel representa um marco importante na história e na paisagem de Dois Irmãos, o morro que dá nome ao município representa um referencial que se ostenta nessa paisagem cultural.
Da Capela à Igreja
A primeira capela católica construída em Dois Irmãos foi inaugurada no dia 30 de novembro de 1832. Feita de madeira, seu registro histórico se encontra no livro História das Casas: Paróquia São Miguel – Dois Irmãos, de autoria do Pe. Inácio Spohr, S.J., mas também é reproduzida em uma pedra comemorativa, que pode ser vista na parte externa da nova Igreja Matriz São Miguel. Este templo atendeu a comunidade por quase 38 anos, quando foi substituída por uma nova igreja, desta vez feita de alvenaria.
Em fevereiro de 1868, o vigário (como eram chamados os párocos na época) de Dois Irmãos, Pe. Guilherme Doerlemann, S.J., iniciou a campanha de arrecadação de verbas para iniciar a construção da nova Igreja Matriz. Quatro meses depois de iniciada a campanha, a obra recebeu como responsável o construtor Peter Schnorr. Além deste, Peter Kronbauer ficou encarregado do transporte das pedras necessárias e Josef Zoll assumiu a tarefa de edificação do telhado. O projeto do novo templo foi inspirado na Igreja Matriz Nossa Senhora da Conceição, de São Leopoldo. Durante os primeiros tempos da construção, um detalhe chama a atenção: apenas a parte do coro e da nave foi executada, sendo esta unida com a metade do templo de madeira. A demolição da antiga capela de madeira, por completo, ocorreu em novembro de 1870. A segunda parte do templo de alvenaria foi edificada entre 1872 e 1874, desta vez tendo Peter Rüwer como construtor e Karl Loeblein pela conclusão do telhado.
A benção solene da pedra fundamental da nova Igreja Matriz ocorreu em 6 de fevereiro de 1869, com a presença do Bispo Diocesano, Dom Sebastião Dias Laranjeira. A primeira fase da construção do templo ocorreu entre 1868 e 1874. Além da construção propriamente dita, nesse contexto também foram adquiridas as imagens (estátuas) da Virgem Maria (1870) e de São Miguel Arcanjo (1872). A construção dos altares laterais, dedicados à Virgem Maria e à São José foi incumbida ao irmão jesuíta João Egloff. O primeiro data de 1873 e o segundo foi erigido em 1876. Ir. Egloff também foi responsável pelo corredor de pedra grês (1874) e pela confecção do teto forrado, isso já em 1879, na segunda fase de construção da igreja, ocorrida entre 1877 e 1880. A torre foi erguida por Jacob Schmitt, recebendo a cruz no dia 24 de maio de 1877. Finalmente, em 24 de abril de 1880, após 12 anos de construção, foi celebrada a Missa Solene por Dom Sebastião Dias Laranjeira, com a benção da nova Igreja Matriz. Entre 1948 e 1950, a igreja recebeu os adornos externos finais, assim como a troca das telhas de cimento por um telhado de zinco.
O Cotidiano Religioso
Com base em informações coletadas em registros documentais, imprensa e relatos de membros da comunidade, apresenta-se o cotidiano religioso da comunidade católica da Paróquia São Miguel de Dois Irmãos, especialmente no período em que a Antiga Igreja Matriz era utilizada como templo.
Além das atividades religiosas principais, a Antiga Matriz também foi palco de atividades sociais, educacionais e políticas. Podem ser lembradas as primeiras missas realizadas por sacerdotes nascidos em Dois Irmãos ou localidades vizinhas, como ocorreu com os padres Cláudio Wiest e Urbano Rausch, S.J. ; a Congregação Mariana (feminina e masculina), cuja presença na paróquia iniciou em 1874, se estendendo até a década de 1960, assim como o Apostolado da Oração.
Para além dos momentos de fé, de solenidades e festividades, o cotidiano religioso que abarcou a Antiga Matriz também contou com períodos de dificuldades e conflitos. Como por exemplo o fato de o vigário local, à época do Estado Novo, entrar em atrito com autoridades políticas por conta da intervenção nas escolas católicas da paróquia, caso este registrado em documentos e na imprensa.
Falar de uma história que perdurou por 147 anos (desde a construção da capelinha de madeira até 1979, quando houve a inauguração da nova Igreja Matriz) é algo que vai além destas poucas linhas. Mas esta história está marcada em cada espaço da Antiga Matriz, nos registros que foram deixados, nas fotografias, reportagens, correspondências. Aqui você é convidado a conhecer um pouco dessa perspectiva do cotidiano religioso, da Antiga Matriz e da comunidade católica de Dois Irmãos.
A Dessacralização e a Desativação
Na Igreja Católica, o processo de dessacralização, previsto no Código de Direito Canônico ocorre quando um templo deixa de ser espaço litúrgico, ou seja, não é mais utilizado para finalidades religiosas, especialmente a Celebração da Eucaristia. Para isso, o bispo diocesano publica um decreto episcopal e um rito é realizado, marcando a dessacralização daquele espaço. A Antiga Matriz passou por esse processo, antes de se tornar o conhecido Espaço Cultural de hoje.
Com inauguração da nova Igreja Matriz da Paroquia de São Miguel, em 29 de setembro de 1979, os atos litúrgicos passaram a ser realizados no novo templo. Após a retirada da Pedra D’Ara do altar principal e da Pia Batismal (transferida para a nova igreja), assim como de imagens e outros objetos litúrgicos, a Antiga Matriz é desativada enquanto espaço litúrgico. E entra em um período de aproximadamente 20 anos de abandono. Importante ressaltar que ainda em 1975, ocorreu um movimento comunitário para evitar a demolição do prédio, como foi cogitado, inclusive por parte do pároco de Dois Irmãos no período.
Com a inauguração do novo templo, é provável que o decreto episcopal – emitido por Dom Vicente Scherer – e o rito de dessacralização tenham sido realizados. Entretanto, não há registros nos Livros Tombos paroquiais (que funcionam como “livros diários”, onde são lançados os atos e fatos significativos de valor histórico e os acontecimentos e os procedimentos administrativos de maior relevância) destes atos, o que não nos permite dizer a data exata de quando isso ocorreu.
O Abandono da Edificação
Entre 1975 e 1979, a Antiga Igreja Matriz de São Miguel foi sendo substituída pela nova igreja como espaço litúrgico paroquial. Esse processo fez com que a Antiga Matriz ficasse abandonada por 20 anos e passasse por uma tentativa de demolição por parte de algumas entidades civis e religiosas. Nesta época o templo já estava com mais de 100 anos. A força da comunidade impediu a destruição.
Até 1995, o espaço foi utilizado para fins diversos, como salas de catequese, para reuniões de grupos de jovens e até mesmo velórios foram ali realizados. Servia também como depósito, o que contribuiu para a degradação do local. Em imagens registradas na década de 1990, podemos ver a presença de objetos totalmente adversos, além de sujeira, infiltrações, rachaduras na estrutura, entre outros problemas. Se fazia necessário e urgente modificar aquele cenário. A partir de 1991, foram adotadas medidas visando preservar, restaurar e requalificar a Antiga Matriz, cujas iniciativas partiram, especialmente, da mobilização da comunidade.